quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Vermelha Maldade


Não sou e não serei o que me tornaram.
Nem que seja pela delícia de não corresponder às expectativas.
Pensem o que quiserem, mas saibam que sou mistério.
Um mistério de riso frouxo, silencioso, audacioso e sedutor.
E nunca, jamais, encontrarás tal, pois não mereces e não me convém.
Espalhem minha tristeza como se fosse do meu ser verdade.
Sabem que não é... Sou leve, mas peso. Porque marco presença, sou barulhenta, apesar de quieta.
Faço estrago dos bons. É nisso que pões raiva, certo?
Ponha, meu bem, ponha. À ti mesmo não mentes, sabes que és incapaz de aceitar a inveja que lhe toma.
Não importa, agora. Importará depois.
E sairei feliz dessa minha tristeza, feliz.
Sairei com meu sorriso lateral, letal, pintado de vermelho, apertando os olhos, má:
Viu? Eu estava certa. Agora que importa, já não importa. A vida é minha, ganhei-a.



A.D.

mãos se dando




não que eu tenha medo
não que eu seja insegura,
mas dar minhas mãos as tuas
é só para unir meu corpo no teu
quando andamos pelas avenidas
quando nenhuma cortina encobre
quando a cama são as calçadas
se o teto é qualquer lua
se a morada é qualquer rua
o amor é feito as claras
das mãos se dando, nuas



Cáh Morandi

não vejo mais o tempo, não o substimo,
quando o denomino de futuro
embora mal posso esperar para desvendar
o que já esteve me esperando por milênios
ficar quase sem o ar, e quase morrer, desesperar
ver teu rosto, teus traços se formarem
entre as digitais dos meus dedos que tremem
ver você realizar, ver você ser,
ver você me olhar

de alguma forma a gente soube
(ou saberá)
que o tempo da espera
é o caminho de se encontrar
Cáh Morandi

Dentro de um abraço

Dentro de um abraço é sempre quente, é sempre seguro.
Dentro de um abraço não se ouve o tic-tac dos relógios e,
se faltar luz, tanto melhor.
Tudo o que você pensa e sofre,
dentro de um abraço se dissolve.

Martha Medeiros (Feliz por nada)






Eu mesma
não passo de uma pessoa apenas
e apenas quero ser uma pessoa sensata
mesmo com as trapaças das outras pessoas
ora,
eu mesma me passo para tras!
Martha Medeiros

(Cartas Extraviadas)